TARDE
LOCAL KUYA - Centro de Design do Ceará
14h-15h30
Gente de Verdade
Ubiratan Suruí e Gabriel Uchida (Coletivo Lakapoy) conversam com Thyago Nogueira (IMS)
Conheceremos o projeto “Gente de Verdade”, que dá continuidade a uma iniciativa que investiga a relação do povo Paiter Suruí com a imagem através da construção de um arquivo visual feito de fotografias guardadas pelos próprios indígenas, desde o momento em que começaram a utilizar câmeras, há pouco mais de 50 anos. O Coletivo Lakapoy é formado por Ubiratan Suruí, Txai Suruí e Gabriel Uchida, comunicadores do povo Paiter Suruí da Terra Indígena Sete de Setembro, em Rondônia. Após as lutas pela demarcação do território, os jovens passaram por ações de formação para aprender a utilizar novas tecnologias a fim de desenvolver e documentar suas narrativas, visando preservar e fortalecer a cultura Paiter Suruí.
Ubiratan Gamalodtaba Suruí é um fotógrafo indígena nascido na aldeia Lapetanha, na Terra Indígena Sete de Setembro, em Rondônia. Sensibilizado pela falta de contato com os rituais e a cultura de seu povo, resultado do etnocídio causado pela evangelização, transformou essa inquietação em motivação para sua arte. Como o primeiro fotógrafo profissional da comunidade Paiter Suruí, ele captura com sensibilidade e poesia os aspectos visuais e culturais de seu povo, além de documentar os movimentos de resistência dos povos indígenas. Suas imagens não apenas celebram a identidade Paiter, mas também fazem ecoar as vozes de resistência e luta por direitos e reconhecimento.
Gabriel Uchida é fotógrafo e produtor de cinema. Atualmente baseado em Rondônia, Uchida construiu sua carreira trabalhando internacionalmente em diferentes países nas Américas, África e Europa. Suas fotos já foram publicadas em mais de 30 países e teve também exposições individuais na Etiópia, Alemanha e São Paulo. No cinema, ganhou um Emmy e mais de 20 outros prêmios internacionais com o documentário O Território, que foi selecionado para mais de cem festivais pelo mundo. Uchida trabalha com os Paiter Suruí há quase dez anos.
Thyago Nogueira é curador e editor. Dirige o departamento de Fotografia Contemporânea do Instituto Moreira Salles e é editor-chefe da Revista ZUM. Fez a curadoria das exposições de Claudia Andujar (No lugar do outro, 2015), William Eggleston (A cor americana, 2015), Mauro Restiffe (São Paulo Fora de Alcance, 2014), Jorge Bodanzky (Brasília, em 2013, e No meio do Rio, entre as árvores, em 2016). Foi editor-convidado da revista Aperture (2014) para a edição dedicada à fotografia de São Paulo. Fez a curadoria do projeto Água escondida, de Caio Reisewitz (ArqFuturo, 2014), Offside Brazil (2014), em parceria com a agência Magnum, e Câmera Aberta, de Michael Wesely. Em 2011, organizou o livro Por trás daquela foto, em parceria com Lilia Mortiz Schwarcz.
16h-17h
Arquivo às avessas
com Rosângela Rennó, mediação de Daniela Moura
Ao longo de quase quatro décadas de produção, Rosângela Rennó expandiu as fronteiras da criação artística por meio da fotografia. Mais interessada no lugar de espectadora, colecionadora e investigadora do que propriamente na de autora das imagens, ela explora a materialidade da fotografia, enunciando os dispositivos de captura, os sistemas de circulação e as relações de poder. Em uma parte significativa das obras que deram origem aos seus livros, trabalha com arquivos como se os virasse ao avesso, explicitando as linhas de costura de seu tecido simbólico.
Rosângela Rennó, Belo Horizonte, 1962. Vive e trabalha entre o Rio de Janeiro, Brasil, e o Porto, Portugal. Formou-se em Artes Plásticas pela Escola Guignard (1986) e em Arquitetura pela Universidade Federal de Minas Gerais (1987). É doutora em Artes pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo ECA-USP (1997). Atualmente dá aulas na Escola das Artes da Universidade Católica do Porto, como professora-visitante. O seu trabalho sobre fotografias, objetos e instalações caracteriza-se pela investigação de diferentes políticas de representação/absorção fotográfica e das relações entre memória e esquecimento, através da apropriação de imagens de diversas fontes, desde feiras de pulgas e fotos da internet até arquivos e acervos institucionais. Arquivos fotográficos precários, abandonados e até mesmo, ‘arquivos mortos', levaram-na a empenhar-se no esclarecimento e no combate às recorrentes narrativas de apagamento e de 'ignorância estrutural', utilizadas como estratégia de amnésia histórica e exclusão de grande parte da população, especialmente no Brasil e nos países do Sul Global. Dedica-se também à criação de vídeos e livros de artista, sempre na mesma base conceitual.
Daniela Moura é pesquisadora e educadora no campo da imagem. Dedica-se ao pensamento crítico da fotografia, dialogando entre arte e comunicação, linguagem e agência política. Escreve textos para artistas, exposições e meios especializados, tendo publicado mais recentemente nos sites das revistas ZUM / IMS e seLecT. Atou como pesquisadora na Base de Dados de Livros de Fotografia e como professora de cursos livre e de pós-graduação. Atualmente trabalha como pesquisadora no projeto “Geopolíticas Institucionais: arte em disputa a partir do pós-guerra” como bolsista de treinamento técnico FAPESP e, desde 2021, realiza a cocuradoria e mediação do Ciclo de Conversas do festival IMAGINÁRIA_, dedicado aos fotolivros.
NOITE
LOCAL PINACOTECA DO CEARÁ
17h30-19h
Delírio Tropical
com Orlando Maneschy, Ayrson Heráclito, Paula Sampaio, Waléria Américo e Hal Wildson, mediação de Iana Soares
Em Delírio Tropical reunimos um vasto legado visual que constitui um recorte de tempos e perspectivas distintas a partir de experiências de vida, visibilizando modos de pensar e olhar para este país. Esta mesa, composta pelos artistas Ayrson Heráclito, Hal Wildson, Paula Sampaio e Waléria Américo e pelo curador Orlando Maneschy pretende ativar um diálogo presente na exposição que opera modos de relacionar com o outro, com a história, dentro de uma perspectiva humanista e crítica. Reiteramos um campo de trocas de ideias a partir de experiências singulares desenvolvidas pelos autores.
Orlando Maneschy é artista, professor-pesquisador e curador. Doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Realizou estágio pós-doutoral na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. É professor na Universidade Federal do Pará. É coordenador do grupo de pesquisa Bordas Diluídas: Questões da Espacialidade e da Visualidade na Arte Contemporânea (UFPA/CNPq). É curador da Coleção Amazoniana de Arte da UFPA. Tem participado de diversos projetos, exposições, e foi contemplado com prêmios e bolsas de instituições como Funarte, CNPq e Capes. Seus focos de interesse são a arte brasileira e a museologia.
Ayrson Heráclito é um Ogã Sojatin do Jeje Mahi em Salvador, professor da UFRB na cidade de Cachoeira/Ba, artista visual e curador. Doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC São Paulo, Mestre em Artes Visuais pela UFBA. Suas obras de instalações, performances, fotografias e audiovisuais, lidam com elementos da cultura afro-brasileira e suas conexões entre a África e a sua diáspora na América. Participou da Trienal de Luanda em Angola, 2010, Bienal de fotografia de Bamako no Mali, 2015 e em 2017 da 57 Bienal de Veneza na Itália. Possui obras em acervos do Musem der Weltkulturen em Frankfurt, Museu de Arte do Rio, MAR, Museu de Arte Moderna da Bahia, Pinacoteca de São Paulo, Videobrasil, MASP, Inhotim e Coleção Itaú. Foi um dos curadores-chefe da 3ª Bienal da Bahia, curador convidado do núcleo “Rotas e Transes: Áfricas, Jamaica e Bahia” no projeto Histórias Afro-Atlânticas no MASP e recebeu o prêmio de Residência Artística em Dakar do Sesc_Videobrasil e a Raw Material Company, Senegal. Em 2020 a 2022 realizou a exposição Yorùbáiano no MAR e na Pinacoteca de São Paulo.
Paula Sampaio nasceu em Belo Horizonte/MG(1965). Veio ainda menina para a Amazônia com sua família, e em 1982 escolheu viver e trabalhar em Belém (PA). Durante o curso de Comunicação Social (UFPa), descobriu a fotografia, e em seguida foi aluna de Miguel Chikaoka, na Fotoativa(1986). Optou, pelo fotojornalismo e a principal referência nessa área é o Jornal O Liberal, onde trabalhou como repórter fotográfica e editora assistente entre 1988 e 2015. Desde 1990 desenvolve projetos de documentação fotográfica sobre o cotidiano de trabalhadores, em sua maioria migrantes, que vivem às margens dos grandes projetos de exploração e em estradas na Amazônia, principalmente nas rodovias Belém-Brasília e Transamazônica. Em seu percurso também recolhe sonhos e histórias de vida das pessoas com as quais se encontra nesses caminhos. Atualmente é responsável pelo Núcleo de fotografia do Centro de Cultura e Turismo Sesc Ver-o-Peso em Belém e continua a desenvolver seus projetos, em andamento “Sobre vidas e estações " .
Hal Wildson é artista multimídia e poeta, nascido em 1991 no vale do Araguaia (Barra do Garças/MT - Aragarças/GO), região de fronteira entre Goiás e Mato Grosso, conhecida rota e portal da Amazônia Legal, lugar determinante para entender a essência e as motivações de seu trabalho. Sua pesquisa emerge de sua vivência no sertão do centro-oeste, marcado pela configuração de sua família mestiça e marginalizada, o artista investiga a construção da “ideia de nação”, confrontando os projetos de identidade, memória e esquecimento que sustentam a história oficial, na medida em que busca respostas sobre a própria origem. Nascido em uma estrutura familiar moldada pela violência e o abandono, a história e o trabalho do artista se misturam denunciando temas de um brasil "esquecido" fruto do agronegócio e do garimpo às margens do Rio Araguaia.
Iana Soares, Fortaleza, 1986. Jornalista, fotógrafa, professora e gestora cultural. Tem interesse nas relações entre a palavra e a imagem, a literatura e a fotografia, o real e a imaginação. Tem mestrado em “Criação Artística Contemporânea” na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Barcelona, na Espanha (2015). Concluiu Especialização em Escrita Literária, no Centro Universitário Farias Brito (2019). Atualmente é assessora de Formação do Instituto Mirante de Cultura e Arte. Foi Gerente de Educação e Formação do Museu da Imagem e do Som do Ceará. Coordenou o Programa de Fotopoéticas e o Programa de Formação Básica em Artes Visuais da Escola Porto Iracema das Artes. Foi editora do Núcleo de Imagem e articulista do Grupo de Comunicação O POVO. Faz parte da equipe de criação e coordenação geral do Fotofestival SOLAR.
19h30-21h
A política das imagens ou como narrar um país em luta
Com Jorge Bodanzky e João Moreira Salles, mediação de Bete Jaguaribe
Nesta conversa, Jorge Bodanzky e João Moreira Salles, referências do audiovisual brasileiro, exploram a força da imagem e do cinema como ferramentas de reflexão social e cultural, capazes de promover diálogos profundos. Com obras que revelam o Brasil, eles discutem como suas narrativas documentais capturam a diversidade, as desigualdades e os desafios do país. Com mediação de Bete Jaguaribe, discutiremos a relevância do olhar crítico e da sensibilidade na construção de histórias que ecoam as questões mais urgentes da sociedade. Uma conversa sobre arte, memória e transformação social.
Jorge Bodanzky, cineasta, fotógrafo e repórter, nasceu em São Paulo, em 1942. Estudou na Universidade de Brasília e na Escola de Design de Ulm, na Alemanha. Iniciou a carreira de fotógrafo incentivado por Amélia Toledo e Athos Bulcão, Trabalhou para as revistas Manchete e Realidade, o Jornal da Tarde, entre outros. Fotografou muitos longas-metragens entre 1968 e 1974. Estreou como diretor de cinema com o média-metragem Caminhos de Valderez (1971), codirigido com Hermano Penna. Seu primeiro longa, Iracema: uma transa amazônica (1974), codirigido com Orlando Senna, foi censurado no Brasil até 1981. Após Iracema, dirigiu inúmeros filmes, como Gitirana (1975, codireção de Orlando Senna), Jari (1979, codireção de Wolf Gauer) e Amazônia, a nova Minamata? (2022). Seu acervo de fotografias e filmes super-8 foi incorporado pelo Instituto Moreira Salles em 2013. Colabora com a revista ZUM.
João Moreira Salles é documentarista e fundador da revista piauí. Dirigiu, entre outros, Notícias de uma guerra particular, Santiago, Nelson Freire e No intenso agora. Mais recentemente, publicou “Arrabalde”, série de sete reportagens sobre seu período na Amazônia.
Bete Jaguaribe é doutora em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), onde também realizou mestrado em História Social e graduação em Jornalismo. Desde os anos 1990, atua na gestão pública com experiência no campo cultural, com ênfase no audiovisual e na formação em artes. Coordenou projetos como o Instituto Dragão do Mar de Artes e Indústria Audiovisual e o Bureau de Cinema e Vídeo do Ceará, primeira film comission do Brasil. Na gestão do Ministro Gilberto Gil, foi chefe-de-gabinete da Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura, período em que também ocupou a função de Secretária do Audiovisual Substituta. Atualmente, é diretora de Formação e Criação do Instituto Dragão do Mar e da Escola Porto Iracema das Artes.