2018 2022 2024

DELÍRIO TROPICAL

ORLANDO MANESCHY
Curador

KEYLA SOBRAL
Curadora adjunta

Tentar traduzir um país por suas imagens pode parecer grandioso ou até mesmo impossível diante da multiplicidade de experiências de mundo e dos variados modos de olhar; mas aqui reunimos um vasto legado visual que constitui um recorte de tempos distintos, atravessados por perspectivas singulares de fotógrafos que criaram a partir de suas experiências de vida. De cenas por vezes emblemáticas, registradas no imaginário nacional, a outras, ainda pouco apreciadas pelo grande público, visibilizamos expressões singulares de pensar e olhar para esta vasta terra brasilis, entendendo que sempre há uma seleção, ordenamento de quem olha através da lente de um caleidoscópio fragmentário e inconcluso.

Há sempre um recorte oriundo do quadro imagético, seleção, escolha daquele que olha ou edita, recompõe uma sensação materializada em imagens que instigam os sentidos daquela pessoa que vê.

Eu vi um país na tevê e nas páginas de revistas ilustradas, cruzando estradas e nas histórias que não foram ainda contadas, pois ultrapassam as palavras, então são inventadas em um quadro, por vezes mágico, ora assustador, suspensas no tempo. Imagens que mexem com os sentidos, em desnorteio. Coisas que eu não sei dizer nada por dizer, então eu escuto o que as imagens me contam. 

Eternamente a saga: o Brazil não conhece o Brasil. Nossos tristes trópicos vivem ainda sob o eco da modernidade jamais superada e da negação de nossas matrizes primeiras, com a importação das ideias e os olhos fechados para tantas questões que pulsam nessa dita democracia; das sociais a ecológica; das múltiplas línguas de um país de grandes sertões e florestas, e pensadores que articulam desde uma educação libertária à construção real de independência do imperialismo. Entre ritos e processos relacionais, a possibilidade de pensar a imagem em um giro que pode sinalizar, mesmo que no diminuto, uma fissura com a colonialidade. Ativar o poder de, por meio de uma reunião de autores e imagens, reutopyzar a percepção do olhar. São diversos corpos e visões, etnias e sistemas de representação que convocamos aqui. 

A fotografia brasileira tem operado em distintos campos. Do documental, passando por criações de perspectivas singulares de olhar para a vida, com uma multiplicidade de expressões, do jornalismo até criações que rompem com a ideia de real. A imagem expande-se ao dialogar com as variadas percepções que foram se consolidando no campo da arte. Do retrato à colagem, dos experimentos laboratoriais à animação em vídeo, articulamos nessa exposição diversidades que forjam o imaginário de uma nação. Reunimos expoentes presentes na cultura visual, como o beijo de um casal em uma festa popular por Nair Benedicto, à não menos emblemática obra de Rosangela Rennó elaborada na Eco 92, passando pelas insurgentes fotografias de Danielle Fonseca surfando em um piano na Amazônia. Para além de retratos especiais de ídolos de um país, lançamos o olhar também para o inesperado, o desviante, o ainda pouco conhecido, pulsante nesse complexo caldeirão multicultural que forja essa terra brasilis. Buscamos encontrar um território profundo, feito de chão-vida, em uma mescla-visual, ambiente relacional, com gente, calor, mistura de vários cantos de um Brasil misturado nesta terra nada incógnita.

Em Delírio Tropical apresentamos artistas de todas as regiões do país, de diversas gerações, desde documentaristas a artistas visuais que usam da imagem como elemento decisivo na construção de seus discursos. Ao compreender a imagem em toda a sua potência, cartazes, capas de disco e revistas somam e revelam a diversidade de mídias - como vídeo, pinturas e esculturas - que partem de uma relação com o referente iconográfico.

São mais de 100 artistas que somam seus universos tanto na exposição principal, quanto em seu extravasamento com a mostra de audiovisual que reúne filmes, videoartes e performances orientadas para o vídeo e na série de lambes ao ar livre, que ampliam a reflexão sobre a relação com os diversos territórios que compõem um país por vezes desconhecido. Do rito à dor, de corpes insurgentes ao giro que critica colonialidade, Delírio Tropical ativa, no diálogo, passado e presente diversas esferas entre história e imagem.
 

OS CURADORES

Orlando Maneschy é artista, professor-pesquisador e curador. Doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Realizou estágio pós-doutoral na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. É professor na Universidade Federal do Pará. É coordenador do grupo de pesquisa Bordas Diluídas: Questões da Espacialidade e da Visualidade na Arte Contemporânea (UFPA/CNPq). É curador da Coleção Amazoniana de Arte da UFPA. Tem participado de diversos projetos, exposições, e foi contemplado com prêmios e bolsas de instituições como Funarte, CNPq e Capes. Seus focos de interesse são a arte brasileira e a museologia.

Keyla Sobral é artista visual, Doutora e Mestre em Artes pela Universidade Federal do Pará. Atua ainda como curadora independente, sendo atual curadora adjunta da Coleção Amazoniana de Arte da UFPA; curadora adjunta do Arte Pará 2019 (Exposição Deslendário Amazônico). Integra as coleções Casa da Cultura da América Latina, Museu de Arte do Rio Grande do Sul, Sesc Nacional, Amazoniana de Arte, Museu Casa das Onze Janelas e Fundo Z. É autora do livro ‘Nunca falei tão sério”, lançado em 2023 pela editora Urutau.

A exposição é realizada pelo Fotofestival SOLAR, em parceria com a Pinacoteca do Ceará, o Instituto Mirante e a Rede Pública de Espaços e Equipamentos Culturais do Estado do Ceará (RECE). 


ARTISTAS

Alair Gomes 
Alexandre Sequeira
Alice Yura
Aline Motta 
Allyster Fagundes
Ana Matheus Abbade
André Felipe Cardoso
André Lima
André Parente
Anna Bella Geiger
Anna Maria Maiolino
Antonio Guerreiro
Aoruaura
Araquém Alcântara
Armando Queiroz
Arthur Scovino
Ayrson Heráclito
Bauer Sá
Bené Fonteles
Biarritz
Bonikta 
Caio Reisewitz
Cao Guimarães
Carlos Vergara
Celso Brandão
Celso Oliveira
Céu Vasconcelos
Christus Nóbrega
Cildo Meireles
Claudia Andujar
Dalton Paula
Daniel Escobar
Danielle Fonseca
Davi de Jesus do Nascimento
Davi Ramos 
Débora Parisotto
Denilson Baniwa
Éder Oliveira
Edgar Kanaykó Xakriabá
Elza Lima
Eustáquio Neves
Evandro Teixeira
Fernanda Magalhães
Gabriel Bicho 
Gal Cipreste & Masina Pinheiro 
Glenda Beatriz
Gustavo Assarian
Guy Veloso
Hal Wildson
Heleno Bernardi 
Hilda de Paulo
Hudinilson Jr.
Índigo Braga
Jean Petra
João Angelini
João Castrioto 
Joaquim Paiva
Joelington Rios
Jonas Amador
Jonathas de Andrade
Jorge Bodanzky
José Diniz
Juliana Notari
Karim Aïnouz
Keila Sankofa
Keyla Sobral
Kuenan Mayu
Labô Young
Laryssa Machada
Letícia Parente
Lia Chaia
Lucas Bambozzi
Lucas Fontes
Lucélia Maciel
Lúcia Gomes
Luciana Magno
Luiz Braga
Luiz Fernando Borges da Fonseca 
Lyz Vedra
M4fel
MAR + VIN
Marcela Campos
Marcos Chaves
Marise Maués
Maureen Bisilliat
Mauricio Igor 
Mayra Rodrigues
Miguel Chikaoka
Moisés Patrício
Nair Benedicto
Nau Vegar
Nay Jinkss
Nazareno
Nilmar Lage
NoPorn
Olinda Yawa Tupinambá 
Oriana Duarte
Pablo Mufarrej
Paula Sampaio

Paula Trojany
Paula Trope
Paulo Bruscky
Rafa BQueer
Rafael Prado
Raíssa Studart
Raphael Escobar
Renan Teles
Renato Bezerra de Mello
Rivane Neuenschwander
Rodrigo Braga
Rogério Reis 
Rosa Gauditano
Rosângela Rennó
Rubens Mano
Sallisa Rosa
Samir Dams
Samuel Macedo
Simone Michelin
Tadáskía
Talles Lopes
Thiago Martins de Melo
Tiago Sant'Ana
Tupinambá Lambido
Uýra Sodoma 
Ventura Profana
Vitória Barros
Vulcanica Pokaropa
Walda Marques
Waléria Américo 
Wilson da Costa
Yhuri Cruz

 


CONSULTORES

Ângela Magalhães e Nadja Peregrino
Dalton Paula
Márcio Harum

SERVIÇO
QUANDO Abertura no dia 11 de dezembro de 2024, às 18h - Segue em exibição até 29 de junho de 2025
HORÁRIO Na semana de abertura de abertura, visitação de quinta a sábado, das 12h às 21h, com acesso até as 20h30; e domingos, das 9h às 20h, com acesso até as 19h30
ONDE PINACOTECA DO CEARÁ - Rua 24 de maio, Praça da Estação, s/n - Centro, Fortaleza - CE, 60020-000
GRATUITO. LIVRE* Obras que podem ser consideradas não recomendadas para crianças ou adolescentes estão em espaços reservados, indicados com sinalização.